Anúncio da reunião entre Donald Trump e Kim Jong Un provoca perguntas

Por Jacyara CristinaRedação Por Redação - 10/03/2018 10:54

 O surpreendente anúncio de uma futura reunião entre o presidente americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong Un é o mais recente, e mais impressionante, avanço diplomático registrado na crise da península coreana.

Estados Unidos e Coreia do Norte, com seus respectivos aliados, se enfrentaram na Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um armistício e nunca viu a assinatura de um acordo de paz.

A seguir algumas perguntas provocadas pelo anúncio da reunião:

- Onde acontecerá a reunião? -

Até o momento a única informação confirmada é de que a reunião acontecerá no fim de maio.

Se o encontro for celebrado em Pyongyang, certamente Kim Jong Un vai montar um grande espetáculo para o visitante, mas neste caso o governo dos Estados Unidos corre o risco de parecer que está na cidade para expressar seu respeito.

A Zona Desmilitarizada que divide as duas Coreias, onde Kim deve se reunir com o presidente sul-coreano Moon Jae-in no fim de abril, é o local mais provável, já que oferece acesso fácil para as duas partes e garantias de segurança.

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Este cenário também atenderia a solenidade e o drama do qual os dois governantes são adeptos.
Outros locais neutros e com menos peso simbólico são Pequim ou Genebra - Kim estudou na Suíça. Neste caso, o encontro exigirá uma coordenação com o país anfitrião.

Esta opção implicaria uma viagem dos dois governantes e Kim não saiu da Coreia do Norte desde que herdou o poder de seu pai em 2011.

Para Pyongyang, um deslocamento a Seul é impensável e até Washington menos ainda, mas há três meses ninguém poderia prever que a irmã de Kim visitaria a capital da Coreia do Sul.

A sede da ONU em Nova York, cidade de Trump, implicaria uma viagem de Kim para território americano.

Os acontecimentos avançaram tão rápido e chegaram tão longe que nenhuma opção pode ser descartada.

- Como será a preparação de Trump? -

O anúncio da Casa Branca aconteceu quase 24 horas depois da afirmação do secretário de Estado, Rex Tillerson, de que os Estados Unidos "estavam longe de negociar" com o Norte.

Os diplomatas de Pyongyang são conhecidos por serem difíceis e tortuosos. Um analista os descreveu como "muito maquiavélicos".

Mas com a chegada ao poder de Trump, o Departamento de Estado perdeu vários especialistas na questão da Coreia e ainda precisa nomear seu embaixador em Seul.

O delegado especial dos Estados Unidos para assuntos da Coreia do Norte, Joseph Yun, se aposentou na semana passada e não aconteceu o trabalho diplomático que habitualmente antecede uma reunião de cúpula.

"Os encontros de cúpula geralmente acontecem ao final de uma longa série de negociações de nível menos elevado, nas quais são acertados os detalhes", afirmou Robert Kelly, professor associado na Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul.

- Como devem se comportar? -

Os dois líderes são pessoas radicalmente diferentes, mas em alguns aspectos registram semelhanças.

Kim foi escolhido para herdar o poder de seu pai e foi criado para isso. Trump é o presidente americano cuja eleição foi mais surpreendente, depois que que chegou à Casa Branca como homem de negócios e astro da televisão.

Kim tem mais experiência no governo, com mais de seis anos como líder de seu país, e espera governar durante décadas, o que o leva a pensar a longo prazo e não nas manchetes do dia seguinte, já que controla os meios de comunicação.

Mas os dois valorizam a lealdade pessoal, ambos têm parentes como assessores de confiança e também apreciam as grandes apresentações: Trump solicitou um desfile militar em Washington e Kim comanda as paradas militares habituais em Pyongyang.

No ano passado, os dois trocaram insultos e ameaças. Trump chamou Kim de "little Rocket Man" (pequeno homem foguete, em referência aos lançamentos de mísseis) e depois fez a ameaça de "fogo e fúria" sobre Pyongyang.

Kim respondeu e chamou Trump de "mentalmente perturbado".
Mas Trump é conhecido por suas mudanças de opinião súbita e em novembro escreveu no Twitter: "Eu tentei com tanta força ser seu amigo e talvez algum dia consiga".

- Qual é o papel da Coreia do Sul? -

De modo surpreendente, todos os anúncios importantes dos últimos dias vieram da Coreia do Sul.

Os emissários do país revelaram a disposição da Coreia do Norte de sentar à mesa de negociações na questão nuclear, na Casa Branca, sem a presença de nenhum funcionário americano.

Nos primeiros meses da presidência de Donald Trump, o republicano se concentrou na China, para tentar fazer com que Pequim influenciasse o país vizinho, e desenvolveu um forte vínculo com o Japão e com o primeiro-ministro Shinzo Abe.

Após os temores iniciais sobre as reações Seul, que foram reforçadas pelas críticas ao presidente Moon Jae-in, o governante sul-coreano mostrou que aproveitou a oportunidade proporcionada pelos Jogos Olímpicos de Inverno celebrados em Pyeongchang em fevereiro.

- Como a China vai reagir?

Durante décadas, Pequim tem sido o aliado chave de Pyongyang e seu protetor. Sua principal fonte de comércio e de ajuda, mas a relação enfraqueceu nos últimos anos.

Kim não viajou a Pequim para expressar respeito ao presidente Xi Jinping e a China demonstrou frustração com o comportamento do país vizinho, indicando uma disposição para aplicar algumas sanções contra Pyongyang.

Ao mesmo tempo, Pequim teme que um colapso do regime de Pyongyang envie ondas de refugiados a seu território e também tem receio sobre a presença de tropas americanas em uma Coreia unificada.

A China, no entanto, fez vários apelos nos últimos anos para a retomada do diálogo multilateral e esta semana celebrou o anúncio de Seul.

Qualquer acordo que resulte em uma redução das tropas americanas na Coreia do Sul também implicaria implicitamente o equilíbrio de poder a favor de Pequim.

AFP



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