Colunista Irapuan Sobral

  • Uma louvação a Aranha: Titanomaquia

    15/11/2024

     Aranha sofre do mal da vanguarda; tudo nele renasce sempre e continuamente. A obedecer os manuais de clichê, nos quais afogamos-nos à moda, ele é dialético: muda sempre, qualitativa e quantitativamente.

    O que não estava na sua contabilidade vital era o carma mitológico: o tempo cobrando à ideia o pacto que celebrou com o céu: não ter sucessor. Aranha sofre dessa falta.

    O tempo finge capitular, e até transfere ao destino a sua cobrança, mas ele chega depois todo armado; e esse destino não antecipa as faturas, porque prefere cobrar a devedores insolventes.
    O que Chronos não conhece é a capacidade de Aranha não se repetir e conseguir viver de oportunidades; nele A IDEIA É OUTRA – sempre.

    Quando Chronos pensa em vencer a Titanomaquia, a ideia vaza, escapa, mesmo tendo que viver no retiro. Não há o mesmo Aranha, em nenhum momento. Daí que é impossível derrotá-lo.

    Aranha está no retiro, sem nenhuma necessidade piegas ou de comoção. Poderia estar se reiventando – ‘comme d’habitude’.

    Não será mais o criador dos festivais da canção, ou a origem da tropicália, ou o estudante das ruas contra a ditadura, ou o produtor de shows (os menos comerciais), ou o compositor, ou o poeta, ou o jornalista de verdades, ou o mágico que atrai e vê talentos.

    Creio que nem será o amigo enérgico na defesa das suas amizades. Comigo, ele foi determinante: Em princípios dos anos 80, permitiu-me publicar no vetusto e premiado ‘Correio das Artes’ alguns poemas. Depois, defendeu-me, de maneira aguerrida, de um atrevimento de alguém que, numa solenidade, zombava de minha indumentária.

    Creio que nem será o Aranha gerente público, como aquele que, nos ditos anos 80, promoveu um programa de apoio à cultura, sem decisões de alcovas ou muros ideológicos, cujo fim foi a música paraibana dos anos seguintes, pronta a ser exibida ao mundo.

    Aranha é Carlos Antônio Aranha, jornalista paraibano, um dos pilares da cultura local, e a personificação dos anos 60 (ainda como o sonho de época).
    Precisamos visitá-lo para reconhecê-lo.
    Obrigado.

    ‘Dixi et salvavi anima meam!’

  • JATOBÁ - Ao céu com alegria

    25/01/2021

     Jatobá

    Ao céu com alegria
    As duas ruas paralelas que cortam o centro da cidade de Jatobá de leste a oeste, partindo das laterais da igreja, são nomeadas em homenagem a dois adversários políticos: Inácio Lira e Juvêncio Andrade. Êmulos conspícuos, eles aprenderam a concorrer sempre a favor da cidade.
    Malaquias Barbosa, que dá nome à rua central perpendicular a essas duas outras referidas, era a síntese conciliatória desses dois coronéis da velha Jatobá.
    Numa esquina da Rua Juvêncio Andrade com Antônio Lacerda (que brigou com cangaceiros de Lampião afastando-o, para sempre, de Jatobá), estava, por sorte, o Bar de Seu Moisés, o coração da cidade. O Bar foi fundado graças ao palpite de João Cunha invertido por Vicente Pinheiro numa milhar do Jogo do Bicho.
    O coração de Jatobá não sobreviveu à despedida de Seu Moisés, depois de ‘percussionar’ por anos, tocando a Vida de todos.
    Dira, que sucedeu seu pai, Teodomiro de Brito, foi, quiçá puxado, romanticamente, pelo adversário, instado a mudar a antiga bodega para o ‘status’ de Bar, na esquina simétrica da mesma Rua Antônio Lacerda, desta feita com a Inácio Lira.
    E Dira transpôs o coração de Jatobá, e as artérias voltaram a pulsar, segundo as conversas de fuxico que os amigos propagam toda manhã.
    Na madruga de hoje, a cidade, com sintomas de bradicardia, não teve forças para erguer as válvulas do coração. Alguém acusou a demora e tentou despertar Dira de Teodomiro com massagens que batiam na janela. Já não era possível. O Gordo foi embora.
    Há mais Jatobá no céu do que na terra. Conterrâneos contemporâneos estão com pressa de chegar. Dira foi mais cedo.
    Ao céu com alegria!
    Aos amigos Tico de Joãozinho, Zé Ribamar, Romeu Antônio, Delânio, Berlânio, Zé Tomaz, Normando Bala e outros tantos que sofrem dessa cardiopatia.
     
     

  • Sequestro orçamentário

    04/01/2020

    Que as áreas de educação e saúde são ‘desculpas’ eleitorais, desde que se vota no Brasil, não há dúvidas.
    Os demagogos até conseguem atualizar o discurso, mesmo na aparente impossibilidade de renovação.


    O êxito do sequestro orçamentário em ambas as áreas esconde duas manobras dos ladrões oficiais: fixar percentual compulsório obriga a liberação de verbas, independente da existência de recursos, bem assim a ‘invenção’ de projetos.

    Na saúde, há um predomínio às construções e às compras em grande escala. A licitação foi criada para o poder público comprar caro e o governante roubar. Disso, ninguém mais desconfia.
    Raramente há funcionalidade na obra e fornecimento de material de qualidade.

    Na educação, permitiu-se uma absurda concentração de recursos no ensino superior, seja de forma direta, inventando universidades e cursos, seja de forma indireta via FIES.

    Esses dois modelos são excelentes meios de concentração de renda, que se vendem como apelo social.

    Se o governo terceirizasse os serviços, VENDENDO OS MERCADOS QUE MONOPOLIZA, e concedesse às famílias esses recursos para que elas gerenciassem o pagamento - e o consumo, seria muito mais prudente.

    Como esse monopólio miserável atrai todo tipo de ladrão, VESTIDO SEMPRE DE TAUMATURGO, é preferível que os recursos cheguem às famílias, minguando no orçamento, porque tubarão não morde piaba.

    No Egito bíblico, José ensinou que esses ciclos econômicos, com intervenção e ausência do poder público, devem ocorrer, sempre que algum motivo cultural ou sazonal interfira no processo econômico.

    Nesta fase brasileira atual, com predomínio de governantes ladrões, é preferível que a população acesse o orçamento.
    “Dixi et salvavi animam meam.”

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