Colunista Irapuan Sobral

  • JATOBÁ - Ao céu com alegria

    25/01/2021

     Jatobá

    Ao céu com alegria
    As duas ruas paralelas que cortam o centro da cidade de Jatobá de leste a oeste, partindo das laterais da igreja, são nomeadas em homenagem a dois adversários políticos: Inácio Lira e Juvêncio Andrade. Êmulos conspícuos, eles aprenderam a concorrer sempre a favor da cidade.
    Malaquias Barbosa, que dá nome à rua central perpendicular a essas duas outras referidas, era a síntese conciliatória desses dois coronéis da velha Jatobá.
    Numa esquina da Rua Juvêncio Andrade com Antônio Lacerda (que brigou com cangaceiros de Lampião afastando-o, para sempre, de Jatobá), estava, por sorte, o Bar de Seu Moisés, o coração da cidade. O Bar foi fundado graças ao palpite de João Cunha invertido por Vicente Pinheiro numa milhar do Jogo do Bicho.
    O coração de Jatobá não sobreviveu à despedida de Seu Moisés, depois de ‘percussionar’ por anos, tocando a Vida de todos.
    Dira, que sucedeu seu pai, Teodomiro de Brito, foi, quiçá puxado, romanticamente, pelo adversário, instado a mudar a antiga bodega para o ‘status’ de Bar, na esquina simétrica da mesma Rua Antônio Lacerda, desta feita com a Inácio Lira.
    E Dira transpôs o coração de Jatobá, e as artérias voltaram a pulsar, segundo as conversas de fuxico que os amigos propagam toda manhã.
    Na madruga de hoje, a cidade, com sintomas de bradicardia, não teve forças para erguer as válvulas do coração. Alguém acusou a demora e tentou despertar Dira de Teodomiro com massagens que batiam na janela. Já não era possível. O Gordo foi embora.
    Há mais Jatobá no céu do que na terra. Conterrâneos contemporâneos estão com pressa de chegar. Dira foi mais cedo.
    Ao céu com alegria!
    Aos amigos Tico de Joãozinho, Zé Ribamar, Romeu Antônio, Delânio, Berlânio, Zé Tomaz, Normando Bala e outros tantos que sofrem dessa cardiopatia.
     
     

  • Sequestro orçamentário

    04/01/2020

    Que as áreas de educação e saúde são ‘desculpas’ eleitorais, desde que se vota no Brasil, não há dúvidas.
    Os demagogos até conseguem atualizar o discurso, mesmo na aparente impossibilidade de renovação.


    O êxito do sequestro orçamentário em ambas as áreas esconde duas manobras dos ladrões oficiais: fixar percentual compulsório obriga a liberação de verbas, independente da existência de recursos, bem assim a ‘invenção’ de projetos.

    Na saúde, há um predomínio às construções e às compras em grande escala. A licitação foi criada para o poder público comprar caro e o governante roubar. Disso, ninguém mais desconfia.
    Raramente há funcionalidade na obra e fornecimento de material de qualidade.

    Na educação, permitiu-se uma absurda concentração de recursos no ensino superior, seja de forma direta, inventando universidades e cursos, seja de forma indireta via FIES.

    Esses dois modelos são excelentes meios de concentração de renda, que se vendem como apelo social.

    Se o governo terceirizasse os serviços, VENDENDO OS MERCADOS QUE MONOPOLIZA, e concedesse às famílias esses recursos para que elas gerenciassem o pagamento - e o consumo, seria muito mais prudente.

    Como esse monopólio miserável atrai todo tipo de ladrão, VESTIDO SEMPRE DE TAUMATURGO, é preferível que os recursos cheguem às famílias, minguando no orçamento, porque tubarão não morde piaba.

    No Egito bíblico, José ensinou que esses ciclos econômicos, com intervenção e ausência do poder público, devem ocorrer, sempre que algum motivo cultural ou sazonal interfira no processo econômico.

    Nesta fase brasileira atual, com predomínio de governantes ladrões, é preferível que a população acesse o orçamento.
    “Dixi et salvavi animam meam.”

  • Sexo

    01/05/2017

     

     
    Seios, lábios e genitais
    São lembranças úmidas
    de que à água
    misturamos do paraíso
    um rio de vida
     
    desejos e prazeres
    como a reprodução
    são apenas o pecado
    original:
     
    a ilusão - ou desvio
    do retorno
     
    O gozo é o leite -
    derramado
     
    Tempo
     
    Em que teta do tempo
    suga-se o leito
    de eternidade
     
    O tempo foi
    tirado
    do céu quando
    um planeta parado
    se envolvia de
    estrelas
     
    Mas a Terra
    andou
    feito o céu
    que desapareceu
    com a eternidade
     
    para nao ser visto
     
    e deixou
    o sol
    e as hipóteses
    e as teorias
     
    até a lua anda
     
    e o tempo
    continua 
    pensando
    que estamos 
    parados
    e ele contando
     
     
    Corpo
     
    O encaixe do espaço no tempo
    Úmido - no leito
    deitado
    derramado
     
     
     
    Poesia
     
    Fazer poesia
    é brincar de dias
    e memorias.
     
    em algum idioma existente
    até a lembrança
    do poeta, o poema rima
    a sina.
     
     
    Estilo
     
    Não há.
    Até que uma roupa
    velha de desuso
    acuse
     
     
    Forma
     
    Sobras da fôrma
    tiram na substância
    a forma
     
     
    Espaço
     
    Esquentava
    o ar
    pelas narinas,
    Para faze-lo
    deixar 
    o nada
    ocupar o espaço -
    por omissão.
     
     
     
    Passada
     
    Passado em poesia
    não é tempo
    é roupa
    dobrada para guardar
    sem as marcas da lavagem
    torcida - liquidada
    pronta para usar
     
     
    Jurisprudência
     
     
    O perdão não devolve 
    a mesma pessoa
    Mas plastifica a cicatriz.
    Com o silêncio eterno
    do fato, a que os advogados
    chamariam
    jurisprudência.
     
     
    Substantivos
     
    São descansos 
    Materiais
    Mesmo os abstratos
    Quando tentam a imagem
    Carecem da transcendência
    E se submetem ao verbo!
     
     
    GRITO
     
    A palavra DITA-DURA
    será comum
    em qualquer idioma;
    Rimará com TORTURA
    Enquanto a memória
    jura
    Que todas as outras
    rimas
    lhe serão caras
    presas e seguras.
     
     
    Caverna 
     
    A caverna que chamo
    Exibe seus tesouros
    Quando, sem desdouro,
    Eu digo: Abre-te, Te amo
     
     
    Intolerância
     
    A plenitude da tolerância
    É a intolerância à intolerância.

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