Colunista Demétrius Faustino
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A que ponto estamos chegando com a tecnologia
15/11/2024É bem verdade que se ficarmos muito tempo sem ler um livro ou jornal, ou se nos recusarmos a ver um pouco de televisão de forma a não exaurir a nossa energia mental, estaremos nos condenando à mais imensa cegueira sobre o que se passa no mundo. Até o google, desde que visto com parcimônia, pode servir para nos tirar do anonimato social.
Porém, e quanto ao grau de conhecimento do Google, que sabe de nossos gostos, necessidades, saldo bancário, e, talvez, peso, altura e cor dos olhos, está nos fazendo esquecer que é nossa, a responsabilidade da interpretação.
Nada contra a era da informação, decorrente do avanço da tecnologia e da globalização, mas não se pode abrir mão de uma leitura física, pois esta tende a promover maior compreensão, mais permanência de informações e memorização, e também para que possamos avaliar o nosso conhecimento, atualizando o próprio banco de dados, sem necessidade de recorrer ao Google, ou ao ChatGPT. Sem esquecer da sensação tátil do livro, a possibilidade de marcar páginas e a menor exposição à luz azul dos dispositivos eletrônicos e das demais estrelas da era digital.
Claro que nem todos são assim, mas com a facilidade das mídias digitais, as pessoas estão perdendo o gosto pela leitura, gerando a preguiça e, agora, vai piorar, com a inteligência artificial.
Em um artigo publicado na Folha de São Paulo, uma professora de graduação, faz a seguinte declaração: É uma luta para fazer com que os alunos leiam um livro inteiro. Eles vivem grudados no TikTok ou no Instagram e não têm concentração. Outro dia, ao ver que todos estavam no celular, parei a aula. Perguntei a alguns o que estavam vendo —e muitos não se lembravam. Não se lembravam do que tinham acabado de ver 15 segundos atrás! Um deles disse que estava comprando uma calça comprida. Para usar a palavra que eles mais dizem, não têm ‘foco’.
Assiste razão a esta professora, pois os alunos tem recorrido aos resumos de livros na internet, às lives, às gravações.
A propósito, essa distração digital tem inclusive, gerado um declínio acentuado e persistente no número de americanos indo para a faculdade, e aí surge a pergunta que não quer calar: A que ponto estamos chegando?
Esses jovens serão os médicos, cientistas, engenheiros e juristas do futuro? Ou só chegarão a isso os excepcionais, que, cada vez em menor número, ainda existem?
O fato é que a tendência por essa crescente lacuna no nível educacional já traça um quadro sombrio na vida das pessoas.
Por Demétrius Faustino
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O desabafo de Flávio José e a música nordestina
07/07/2023A melhor forma de entender um povo é olhar para a cultura dele. E no caso do Brasil, um exemplo clássico disso é a música nordestina, diversificada e representativa de diferentes origens que compõem a Região Nordeste.
Considerado ritmo musical simples, sem muito refinamento, formado por pouco instrumentos e com raízes rurais, o forró também alcançou predomínio no mercado cultural quando esse ritmo se popularizou nos espaços das cidades nordestinas. E apesar das tensões sociais devido às reações contrárias a essa música popular, o forróque é uma expressão artística genuinamente nordestina,conquistava o público nacional.
Ainda no caso do nordeste, e em especial na cidade de Campina Grande, enquanto esses notáveis populares ganhavam espaço nacional, difundindo em maior proporção a música nordestina, forrozeiros locais aproveitavam dessa boa aceitação do público para divulgar sua arte em ambientes mais luxuosos da cidade, como também, passavam a ser venerados pela camada social mais alta como ritmo contagiante e atraente.
Entretanto, de uns tempos para cá, o processo de maior aparição de estilos musicais nesses eventos juninos, estão, cada vez mais, se misturando, e a música sertaneja tomou praticamente o espaço do forró, apesar deste ser um gênero, e aquele um estilo.
Nem mesmo no período das festas juninas o mercado forrozeiro consegue superar a música sertaneja, em razão do gosto musical do brasileiro ter mudado muito nos últimos dez anos, e por se tratar de um período importante para a indústria da música, que passou por muitas transmutações como os investimentos em tecnologia e a forma de consumo.
Foi-se o tempo em que os artistas forrozeiros regionais tinham seus lugares nos palcos, apesar de terem elevado o São João de Campina Grande ao patamar que hoje se encontra.
Mas o incrível é que não ouvimos nenhum grito de indignação desses artistas de forma constante, há não serem Pernambuco onde alguns músicos de forró lançaram por meio das redes sociais uma campanha sobre o desconforto de sentir a vertente musical ser substituída por outro estilo, através da tag #DevolvaMeuSaoJoao, e agora, o desabafo doCantor Flávio José que, de forma implícita exigiu e defendeu uma manifestação cultural para valorizar os forrozeiros, ao fazer um desabafo após ter o horário de apresentação reduzido, no São João de Campina Grande.
O artista aolamentar a redução de show em Campina Grande ainda disse mais: “coisas que a música nordestina sofre”.
Lamentavelmente, há uma flagrante queda na produção da música nordestina, e muitos artistas populares defensores dessa música, foram esquecidos pelos meios de comunicação e pelasfestas inventadas.
E o genuíno forró está sendo ignorado, a exemplo do plangente evento ocorrido em Campina Grande que cortou o show de Flávio José para antecipar o de um Gustavo Lima.
João Pessoa, junho de 2023.
Por Demetrius Fastino
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Essa "Praga" vai passar
19/05/2021Tudo ainda continua indecifrável e obscuro, pois o vírus invisível não é percebido pelos que não expressam sintomas, mas mata indistintamente. Começou matando os velhos, depois aqueles com comorbidade, e agora, jovens saudáveis.
Mesmo assim ainda persiste as situações contraditórias, pois há os apavorados que têm medo até da própria sombra, seguem o distanciamento social à risca, lavam com álcool as compras e usam luvas até para ler jornal. Paradoxalmente, há as pessoas que não se importam com os resultados de seus atos, porquanto se aglomeram, e lançam salpicos de saliva sem guardar a mínima distância de segurança.
A única certeza é que essa alongada constância da pandemia atinge profundamente a alma humana, franqueia a desumana divisão entre incluídos e excluídos, mas todos, sem ruptura da regra, submissos à indefinição.
E para completar ainda tem o fato de que muitas pessoas nem sempre podem contar com a ajuda solidária na permanente procura de um sentido para a vida.
Nesse aspecto, e para esquecer um pouco da praga desse vírus no planeta, é aconselhável leituras para quem gosta de ler, canto para quem canta, composição para quem compõe, fazer poesia para quem é poeta. Essas atitudes podem auxiliar a manter o rumo e a diminuir as instabilidades entre a aflição e o desespero, a sofreguidão.
Ainda mais porque, cremos, a pandemia da Covid não é o fim da história. Ela tem mais a performance de ser uma espécie de teste, embora feroz demais para que a humanidade aprenda que a natureza suportou pacientemente nossa falta de organização e respeito por uns milhões de anos, e nesse momento parece não estar mais a fim de conter a onda.
Em momentos pretéritos, e para garantir nossa existência, tivemos que sacrificar outros animais. Posteriormente, sofismamos a agricultura, e extraímos da terra o que era dela. Depois fizemos uma revolução, ao concebermos máquinas para nos aliviar ou nos preparar para a imprescindível guerra. Assim sendo, interferimos no tempo e no espaço e o resultado foi poluir tudo. Nos restou explodirmos bombas para tirar a dúvida de quem tem mais vigor e merece ficar com o melhor pedaço do defunto planeta terra. Ou fazemos uma conciliação com a natureza ou é melhor desistir de sobreviver.
Assim como ninguém sabe quando e como vai passar essa praga no planeta, ninguém pode saber como será o mundo depois que ela for embora. Isso é, se ela um dia aceitar ir embora. Quantas cepas ainda se diversificarão por aí?
Essa dificuldade de resposta persevera mesmo quando consideramos que existem oito vacinas que acautelam a doença e pelo menos 125 países e territórios que já começaram a imunizar suas populações.
Demétrius Faustino