Rússia aprova pena de até 15 anos de prisão para quem chamar ação na Ucrânia de guerra ou invasão

Por Jacyara CristinaRedação Por Redação - 04/03/2022 23:09
Foto Reprodução
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 Na Rússia, é proibido se referir aos acontecimentos na Ucrânia como uma guerra. Nesta sexta-feira (4), isso passou a ser crime, com punição de até 15 anos de prisão. O governo de Vladimir Putin impõe aos russos um regime duro de censura à imprensa e às redes sociais; e mente para população sem nenhum pudor para justificar o ataque à Ucrânia.

Algo se perdeu na tradução. As TVs controladas pelo Kremlin afirmam que a Ucrânia é responsável por bombardeios em suas próprias cidades. Os ataques da Rússia são de “precisão” e só contra infraestrutura militar.

 

Quando algo sai errado, a imprensa explica com gráficos e analistas jurando de pé junto que não há tropas russas na trajetória do míssil. Ou então a culpa é dos militares da Ucrânia, que usam civis como “escudos humanos”. Quem aperta o gatilho diz que não tinha o que fazer: “O ataque era inevitável. A missão é tirar do poder nacionalistas perigosos”.

Se a população não entendeu a narrativa oficial, o Kremlin desenha. Um vídeo exibido em uma aula para crianças russas, explicou a guerra assim: o menino Misha, da Ucrânia, e o menino Vânia, da Rússia, eram amigos. O ucraniano mudou de sala e começou a ouvir amigos novos, dizendo que a Rússia era ruim. Misha, então, começou a bater nos russos pequenos. A grande Rússia foi proteger esses russinhos. E por aí vai.

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz é o editor-chefe do Novaya Gazeta. Dmitry Muratov afirmou que teve que retirar do ar as reportagens sobre a invasão. O motivo é a censura. O Parlamento russo aprovou nesta sexta pena de 15 anos de prisão para quem tratar a guerra como guerra ou invasão.

BBC anunciou que iria suspender, temporariamente, o trabalho de todos os jornalistas dela na Rússia. A rede britânica explicou que a nova lei pode prender qualquer pessoa que esteja espalhando notícias que o Kremlin considere falsa sobre a guerra na Ucrânia. O diretor-geral da BBC declarou que essa legislação parece criminalizar o jornalismo.

 

Rússia chama a agressão à Ucrânia de “operação militar especial”, uma ofensiva para "desnazificar" a Ucrânia porque um “genocídio está acontecendo”.

O primeiro-ministro da Alemanha disse em Moscou que essa palavra está errada; isso não está acontecendo na Ucrânia. O presidente francês afirmou na quinta-feira (3) num telefonema com Putin que é um delírio falar em governo neonazista na Ucrânia.

O partido ucraniano nacionalista de extrema direita, o Svoboda, teve só 1,6% dos votos nas eleições presidenciais de 2019. Volodymyr Zelensky, o vencedor, é inclusive judeu.

Mas o Kremlin fecha o cerco para outras versões. Putin mandou bloquear nesta sexta-feira (4) o acesso ao Facebook e ao Twitter. O governo afirmou que foi uma resposta ao que chamou de discriminação das redes sociais contra as conta de canais e TVs russos. O Facebook tinha restringido a RT e a Sputnik, que a União Europeia acusa de disseminar desinformação.

Além disso, o governo russo já barrou mais de 400 ONGs. A lei determina que quem recebe doações no exterior exibam em todas as publicações o rótulo “obra produzida por agente estrangeiro”.

A mais antiga ONG de Direitos Humanos na Rússia foi condenada a fechar. Um dos ativistas disse que uma das principais motivações para o processo foi a crítica da Memorial contra a prisão de Alexei Navalny.

 

O principal adversário do presidente Vladimir Putin está preso. Navalny responde a acusações com pena de até 15 anos de prisão. A Anistia Internacional foi uma das ONGs que classificou o processo como “uma farsa”. Outros políticos de oposição também foram presos ou silenciados.

Vladimir Putin abriu espaço para ficar mais 10 anos no poder. A população precisou aprovar a prorrogação do mandato presidencial num referendo. Era sim ou não para mais de 200 emendas na Constituição.

Um dos artigos cita a “fé em Deus” como pilar da Rússia, enfraquecendo a separação entre estado e religião. Outro, define o casamento como a união entre "um homem e uma mulher".

A reforma ideológica dividiu espaço com medidas populares, como a correção do salário mínimo e das aposentadorias acima da inflação.

Há um termo em inglês conhecido como “whataboutism”. É quando alguém num debate tenta desacreditar a opinião do outro mudando o foco do assunto. A pessoa não consegue rebater o argumento, mas acusa o outro de hipocrisia, trazendo um tema que não tem a ver com o tópico em discussão.

Um exemplo claro foi na quinta-feira (3) numa entrevista coletiva com uma porta-voz do Kremlin. O repórter da rede britânica Sky News perguntou ao vivo se as tropas russas miram mal ou se a Rússia está mentindo para população.

 

A representante da Rússia respondeu que o império britânico é quem invadiu países e matou civis. Isso está nos livros de história, mas não tem a ver com a guerra na Ucrânia.

Fatos são incontestáveis: a Rússia passou meses negando uma invasão, falou em histeria do Ocidente ou “russofobia”. Avisou até que tinha retirado as tropas. A diplomacia russa ainda afirmou que as possibilidades de negociação estavam longe de se esgotarem. Mas, dali a dez dias, invadiu a Ucrânia. A Rússia, depois, prometeu que não iria ocupar o território ucraniano.

Vladimir Putin disse, essa semana, que o Ocidente é um “império de mentiras”, mas nenhuma bomba consegue impor a verdade.

 
 
G1
 


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